RESPOSTA CARTA CONVITE

Querida prima Beti,

Que honra ser escolhida por você frôzinha!! Fiquei muito feliz com sua carta e lisonjeada com o conteúdo. Tenho muita vontade e interesse em me aproximar e essa pode ser uma ótima chance; será um prazer ser intérprete e co-criadora do solo dirigo por você.

Sua proposta me interessou por vibrar semelhante a questionamentos que faço em uma pesquisa com a fotografia pelo viés da ação performática e penso esse convite uma oportunidade de explorar/mergulhar nessas questões e me revelar no construir de um “autorretrato móvel”.

Me instiga a proposta sugerida.
sinto que podemos conversar melhor durante o processo conforme acontecer a experiência do encontro entre (...) e então, discutirmos e repensarmos algo se necessário. A sugestão que tenho é elaborarmos melhor o diário do processo; viso as fotografias/colagem uma ótima ideia e possibilidade de expansão não só na pesquisa como na linguagem, temos q pensar como iremos manter o combinado de acesso e atualização do diário, qual dinâmica para a saída desse material? Qual a linguagem estética? E identidade visual?... para pensarmos juntas..

Ah..sobre movimentos/gestos os levarei na data proposta!

Fiquei pensando com minha imaginação que você bem sabe que vai longe rs como completar o verbo de ação e, com esse convite, busco:

“Inscrever de dentro para fora no trânsito de mim”.
No primeiro encontro fiquei sozinha. Após primeira experiência, fiz registro por escrito dos caminhos e trânsitos vivido; desse registro retirei fragmentos que pulsavam e permaneciam vivos para a tarefa a ser apresentada no encontro seguinte. A tarefa era construir um autorretato.

Segue fragmentos:
" ... percorri por diferentes bairros internos, e encontrei novos vizinhos.(..) os mais estranhos seres. charmosos. suada, escorrida de dentro."

por Juliana
Leitura_interpretação autorretrato

"caminho(s) cada encontro um desabrochar
colorido, bordas contorno
margem
centro
madeira vazado
transborda sintilantes faiscas coloridas
misturadas e sobrepostas
textura(s)
relevo espiral
rente, próximo distante

Inteiros pedaços apoiados no reflexo de si
de dentro para fra
de fora para dentro
continuo, fluído, perfumado
espaço preenchido, composto
singular
passagens
escorregar nas formas
delicado, sutil, poroso

Espelha partes
o todo
para além ...
o outro. Ele se vê.
você também...cuidado.
Frágil!
pontas, lascas, pó.

Trajeto da formiga que mora em casa
ela se perdeu?
labirinto
possibilidades.
despretencioso

Uma camada de mim hoje no trânsito de ontem."

por Juliana

1˚ AUTORRETRATO

“Solo” – 16 mulheres e ½- Convite à Juliana Gennari



Querida Ju,

Te convido a ser minha intérprete e co-criadora neste projeto. Fiquei muito entusiasmada quando te tirei no amigo secreto, pois antes deste grande evento, você já era uma das pessoas que eu havia pensado em chamar. Fiquei ainda mais entusiasmada, pois admiro a sua dança, a sua expressão corporal, as imagens que constrói e me aguça querer “ver” mais de perto..... No âmbito pessoal (se é que se pode separar arte/vida), revelou-se grande interesse em me aproximar ainda mais de ti, depois de certa intimidade prazerosa compartilhada no Clown Clandestino (eu como sendo a sua querida prima Beti...rs...).Então, vamos ao que interessa: segue uma primeira proposta, esteja à vontade para perguntar, comentar, sugerir.....Eu busquei relacionar assuntos pessoais que me interessam às questões que surgiram nas Janelas Poéticas que me afetaram......



“Cada indivíduo poderia ser definido por um grau de potência singular e, por conseguinte, por um certo poder de afetar e de ser afetado.”


“Como indivíduos se compõem para formar um indivíduo superior, ao infinito? Como um ser pode tomar um outro no seu mundo, mas conservando ou respeitando as relações e o mundo próprios?” A partir daí, pode-se pensar a constituição de um “corpo” múltiplo com suas relações específicas de velocidade e de lentidão. Pensar um corpo grupal como essa variação contínua entre seus elementos heterogêneos, como afetação recíproca entre potências singulares, numa certa composição de velocidade e lentidão.”


“O comum como um reservatório compartilhado, feito de multiplicidade e singularidade.”

Peter Pelbart


“ O espaço convida à ação e antes da ação a imaginação (imagem-ação) trabalha”.


“ Que lindo objeto dinâmico é um caminho! Como permanecem precisas na consciência muscular as veredas familiares da colina”.

Gaston Bachelard





Proposta primeira em linhas gerais a ser construída junto com você:

Partindo das perguntas que surgiram no processo da Janela Poética da Ilana em relação à dança: o que é meu? O que é do outro? Existe autenticidade? (questões relativas a identidade), buscar construir um “ (co)autorretrato móvel” da nossa dança:
Como se constrói o meu gesto cotidiano? O que é meu? O que é do meu pai? O que é da minha mãe? O que é uma mimética do convívio , seja ele íntimo ( namorados, amigos) e/ou miméticas de padrões sócio-económicos? E como a minha gestualidade cotidiana compõe (precede) a minha dança?
Me interesso pela fronteira que borra o gesto cotidiano do extra cotidiano. Como essa “dança” coletiva diária de todos nós, compõe a minha dança? Como transbordar o gesto cotidiano (funcionais e de expressividade cultural), e que também são meus, retratos de mim (ancestralidade e mimética) e desdobrá-los, derivá-los nas suas múltiplas “errâncias”, lapsos, expressividades íntimas/subjetivas, brechas/ respiros gestuais desautomatizados dos condicionamentos sociais, subtextos? Sendo essa expressividade um reinventar (se), recriar (se) com pitadas de poesia. Neste trânsito irá se compor uma coreografia (explico mais abaixo os primeiros procedimentos).
A proposta é que construamos um “(co) autorretrato” gestual juntas!

E a partir da questão levantada na Janela Poética da Carol “o corpo em co-autoria com o espaço”:

Me interesso ainda pela relação destes gestos (cotidianos ou extras) com o espaço onde acontecem. A partitura coreográfica deverá ter sempre uma brecha para o improviso, poder ser contaminada, borrada com as especificidades do lugar onde acontece (arquitetura, gestos de outros, sons, fluxos, etc..). Podemos talvez falar em uma composição working progress, onde o meu “auto-retrato” pode ser sempre borrado/recomposto e reinventado a partir dos retratos dos outros.....Mas algo permanece? Como permanece? Por que permanece? Qual é o rastro da minha presença? Da presença do outro? O cotidiano em seu contexto “natural” tem um significado, quando é deslocado para outro contexto, o que acontece? O extra cotidiano quando inserido em espaços que não lhe são convencionais, o que acontece?
E assim essa co-autoria também com o ambiente, transforma o espaço, o seu uso e recria a relação do corpo que dança no espaço em que dança.

Inspirada pela minha pesquisa pessoal (o interesse pelo rastro que fica) e pelas imagens compartilhadas pela Mônica e Ilana, surgiu esse complemento à proposta da composição coreográfica, veja o que acha:

Um diário do processo, como um outro “(co) autorretrato” construído através de foto-colagem/ foto–montagem: eu iria fotografar momentos do processo (seu conhecimento será muito útil, podemos elaborar juntas) . Cada uma de nós individualmente escolhe as fotos dentre as tantas e faz com elas o que quiser: tratar, colar, recorta, sobrepor, pintar...ect.... (talvez cheguemos em uma estética comum?!). Esse material vira um diário do processo e também um elemento artístico a ser compartilhado virtualmente com o 16. Podemos pensar ao longo se ele integrará a performance.
Ele dialoga conceitualmente com a proposta de composição coreográfica, na medida em que, assim como o gesto/movimento cotidiano e extra cotidiano são deslocados de seus contextos habituais, a imagem original também é deslocada e experimentada de outras formas / espaços / enquadramentos / texturas / proporções, etc... Mando algumas imagens como possíveis exemplos de técnicas variadas (o autor está no verso) e uma primeira ação, começando já a brincar...rs..... Se tiver referências manda para mim.




Estudos práticos/Procedimentos:

-Escolha de lugares/situações para pesquisa/experimentação in loco dos gestos e movimentos “cotidianos” (a dança de todos). Penso em uma saída por mês (duas horas), veremos em nossas agendas.
- Observar no dia a dia os seus gestos/movimentos....os que insistem e observar os dos outros. Escolher os que chamam a atenção ou apontam para possíveis desdobramentos interessantes( veremos isso melhor nos nossos encontros) . Para o dia 27/03 você já pode escolher dois seus e dois de outros (observando na rua, de um colega, da mãe, do namorado, etc..). Eu farei o mesmo e no encontro do 16 farei algumas propostas para experimentação destes movimentos.
-A partir de imagens, estudo motor do corpo, diferentes dinâmicas e procedimentos criativos de composição (a serem elaborados durante o processo), desdobrar ao máximo estes gestos buscando o singular e podendo sempre retornar a eles (construir no trânsito, entre..). Faremos isso tanto no espaço externo (pesquisa), quanto na Sala nos encontros do 16.
- Do material que for surgindo, fazer uma seleção. Sempre revisitá-la, propor novos desafios, novas situações, podendo escolher células anteriores.
- Da seleção, compor a partitura coreográfica ( experimentando sempre a sua brecha em ser contaminada).


Referências teóricas:

Peter Pelbart- Elementos para uma cartografia grupal
Amálio Pinheiro- Mestiçagem
Gaston Bachelard- A poética do espaço




Verbo de Ação:


Inscrever........................................................















Te deixo esta definição do dicionário

Inscrever:
1.insculpindo, entalhando ou gravando. 2. Traçar, desenhar. 7. Efetuar a inscrição de si mesmo; escrever-se.
Proposta dia 03/04- Para Ju Gennari


Trabalho técnico-coordenação motora


1- Plano baixo:
(Ju, se vc quiser antes de tudo fazer alguns exercício do Pilates para acordar o centro, como a cruz, a ponte e torção do tronco poderia ser bacana...Pensar/ sentir a relação do tronco com as extremidades, principalmente braços)

Tendo em mente a imagem da estrela ( tronco/ cabeça / braços/ pernas), deitada no chão o exercício consiste em : a partir do centro, aproximar/recolher/ flexionar os membros num enrolamento lateral e distanciar/ expandir/ estender os membros, voltando para a “estrela”. Trabalhar um lado e em seguida o outro em diferentes dinâmicas (tempos): em 10, 8, 6, 4, 2 e1.

2- Plano médio:
Para subir, deslocar livremente no plano médio inicialmente, atentando a essa observação de proximidade e distanciamento dos membros ao tronco.........ficar de pé!

3- Plano alto:
Experimentar a mesma coisa: expansão e contração (proximidade e distanciamento dos membros ao corpo) em diferentes dinâmicas: 8, 6, 4, 2, 1 e depois 12, 14.

Ainda em pe´, trabalhar os direcionamentos dos ossos do braço (Bézier) e em seguida ao trabalho em cada braço, experimentar com essa sensação movimentações com os braços no espaço.



Trabalho investigação/ improvisação

Ainda sem se deslocar muito pelo espaços investigar separadamente:

1- Gestos bem próximos ao corpo (cotidianos, embora já possam eventualmente revelar certa estranheza).
2- Investigar os gestos que acontecem no nosso “ círculo” de relação com o outro (um pouco mais apoiado no espaço, gesticulações de fala, ações-pegar, desenrolar, traçar, pendurar etc....o que vier, mesmo que surja uma ação que não esteja clara a função).
3- Investigar os movimentos que atravessam/ furam o espaço (horizontal, vertical-para cima e para baixo), trabalhar na tridimensionalidade.


Trabalho de composição

1- Passar por estes 3 ambientes , agora podendo transitar entre ele.
2- Incluir os gestos que vc investigou durante a semana, e agora neste trânsito gestual, compor com o espaço, podendo repetir sequências e trajetos. Uma pequena dança que deve acontecer em trânsito....a ordem pode ir se alterando e deve, pelo menos em alguns momentos, haver deslocamentos).
3- Uma breve anotação do que ficou desta dança....

Obs- os gestos e movimentos são cotidianos, mas podem revelar às vezes alguma estranheza, alguma errância......












Proposta para o dia 17/04-
Gestos da Ju Gennari (3):

Enquanto ela executa ( em repetição) um de cada vez, eu faço apontamentos (qualidades/ imagens) sobre cada um. Lemos juntas e depois da leitura, buscando agregar as informações trazidas por mim, a Ju refaz cada um deles. Podemos ainda decupá-los e pensar o que acontece física e emocionalmente antes do gesto acontecer e durante a sua realização (trabalhar diferentes dinâmicas, fazer meio gesto, um terço de gesto, pré gesto....).

Obs: conseguimos trabalhar apenas o primeiro gesto.....”a mão que coça o nariz” e seus primeiros desdobramentos