CARTA CONVITE

“Instalação” - 16 mulheres e meia – convite à Fabiane Carneiro


Querida Fabi,

Te convido a ser minha intérprete e co-criadora no projeto “O autorretrato líquido desnudo na tridimensionalidade da fotografia”. Eeeee amada fiquei muito entusiasmada quando te tirei no amigo secreto, você era a pessoa que me interessava convidar. Deixei para elaborar melhor a proposta após o sorteio para adaptar a essência conforme a pessoa. Me identifico demais com a sua dança e admiro-a; vou aproveita sua ilustre presença para ter nessa proposta um elemento desafiador (penso eu), a qualidade da palavra escorrer como proposta de movimento e transição/deslocamento de uma imagem para a outra.
Minha intensão no processo é estar junto com você corporalmente dizendo, no desenvolver de procedimentos e treinamentos; e dirigir a criação junto contigo.
Segue uma primeira proposta, esteja à vontade a perguntar, discutir, complementar e até mesmo recusar. Busquei relacionar assuntos pessoas que me interessam junto algumas questões da janela poética que me preencheram. Trago algumas referencias teóricas para nos alimentar e direcionar.



“Atrações e repulsões nunca nascem em um único item que as impõe, pelo contrário, elas são interações que só podem se dar no espaço “entre” e nunca em “si”.



“Se nos despirmos de todas as características e rótulos de nosso ser –nossos valores, nossa crença, nosso gênero e até nosso corpo – ainda assim permanece um algo especial. Alguns consideram isso a fagulha divina, o nó que entrelaça a existência e a não-existência.
Mas para conhecer esse oculto teríamos que abrir mão de ver, de ouvir ou de qualquer outra sensibilidade que fosse faculdade das coisas que renunciaríamos. Essa identidade profunda, essa essência, ninguém rouba de nós. E ninguém se apossa dela também.”

Nilton Bonder
O Sagrado

“O espaço convida à ação e antes da ação a imaginação (...)”

Gaston Bachelard
A poética do espaço


Proposta primeira em linhas gerais a ser construída junto com você:

Partindo das questões relativas a identidade levantadas na janela poética da Ilana somado a essência desses trechos revelados acima, buscar construir um “autorretrato deslocado na tridimensionalidade da fotografia”:

Me interesso pelo preenchimento da forma e os espaços entre as camadas desse preenchimento. Um dessecar de camadas e existir entre. Dentro da construção do autorretrato abrir espaços e habitá-los com presença, com intensão até se aproximar da sua identidade profunda; quando estiver “frente” a ela reconhecer as diferentes personalidades/persona que nela habita e deslocar(se) de forma “escorrida” de uma para outra. Sendo essa expressividade um revelar(se) de dentro para fora no encontro entre algumas fotografias/autorretrato. Nessa fotografia viva e pulsante irá se compor uma partitura para instalação.

A partitura coreográfica da instalação deverá ter espaços/ momentos para o improviso e poderá se relocar conforme o desejo interno, ou seja, você pode escolher uma locação e construir sua instalação nela e dia seguinte pulsar outras necessidades, faz parte do processo encontrar(se) e revelar(se) em diferentes instancias, um autorretrato itinerante.
Como encontrar o autorretrato que revele o clímax de quem sou hoje? Como escolher entre este e o outro? Como editar uma “série de mim”? Que tipo de tratamento a imagem precisa? Perguntas que vibram na proposta e conduzem-na a construção dramatúrgica da instalação.

Inspirada pela minha pesquisa pessoal (o uso da fotografia para a criação em dança) sugiro complementarmos à proposta com um álbum fotográfico, hoje devido a tecnologia podemos avançar e usufruir da plataforma virtual com mais plasticidade e acessos, tendo uma galeria para seu autorretrato no blog do 16 mulheres e meia. Uma oportunidade de você e o outro acompanhar o crescimento do autorretrato (pesquisa, espaços entre, instalação, corpo); nesse momento proponho juntas definirmos quem irá fazer o registro fotográfico e postá-los, confesso ter algumas “coisinhas” que ainda precisamos definir juntas, pois depende de como vai recebe-las, talvez essa possa ser a deixa para o encontro de quarta-feira 27/03.

Estudos práticos/necessidades técnicas:

- Escolha do(s) lugar(s) para construir a instalação. Penso em uma saída por mês (duas horas) juntas! e caso tenhamos a necessidade de mais conversamos.
- Autorretrato em movimento, teremos dois viés sendo: memória + autoconsciência e fotos a serem feitas por nós enquanto danças, isto é, vou fotografá-la enquanto dança e você também se fotografa.
- As necessidades técnicas implica em tênis (para quando formos para a rua), caderno para registro, espelho pequeno +- 10x15 e equipamento fotográfico (vou trazer o meu equipamento, mas penso no celular como uma alternativa e estratégia devido a facilidade de transportar/tamanho e peso e no manuseio durante a dança).
- A partir de imagens, diferentes dinâmicas e procedimentos criativos de composição (a serem elaborados durante o processo), desdobrar ao máximo as possibilidade de “deslocamento líquido” na fotografia viva na busca do singular, da autenticidade do autorretrato. Tanto para a sala de ensaio do 16 mulheres e meia quanto espaço externo (cidade).
- O material que for surgindo, tem como intenção revelar uma narrativa fotográfica corporal e também plasticidade para ser recriado/jogado fora/ revisitado/tratado/editado.
- A instalação pode conter uma foto autorretrato ou uma série (ensaio fotográfico)
- Levarei referência/ilustração para compor o pensamento/proposta.

Procedimentos de corpo:

Novamente mais algumas sugestões onde você tem toda liberdade de mexer na proposta conforme suas questões individuais. Faremos como preparação corporal treinamentos de: respiração, meditação e pilates:nova postura (técnicas para despertar e tonificar a escuta interna e as estruturas do corpo) e alguns procedimentos para preencher e preparar o corpo para a experiência, como por exemplo o toque dos fluidos, entre outros.
Vou incluir alguns exercícios que aprendi na oficina de Clown Clandestino e a Máscara Neutra.



Verbo de Ação: Desnudar



Definição do dicionário:
1. Desnudar: Despir, despojar, desvestir
“Você desnuda até mesmo minha alma”



Referências:

Nilton Bonder _ O Sagrado
Gaston Bachelard _ A poética do espaço
Escher

1˚ Tarefa

Escolher uma palavra que expresse/ilustre as: sensações e/ou trajetos e/ou imagens e/ou humores do primeiro programa.
PROGRAMA 1- "Dança Desperta"

A partir do centro firme e estável, isolar membros inferiores e
superiores para explorar a dissociação entre: regiões-partes-camadas
dentro "desses espaços/paisagens interna". Repetir incansavelmente,
insistentemente e fluir de uma camada a outra sem parar! na qualidade do
escorrer!

Regras:
1-não pode parar! o movimento fluir e reflui
2-não pode deslocar no espaço fora.

Deslocamento dentro!
Você é livre dentro do "quadro"

Como passar, escorrer, deslizar, derreter, escalar levemente de um
lugar/camada a outro(a)?

Estrutura Programa_
preparação corporal: 1.exercícios de consciência e tonificação abdominal
(10') 2. deitado no chão, explorar movimentos fluidos na intenção de
aquecer conexões centro-extremidades a partir da casa de força (8')
proposta: 1.enraizada, experimentar desnudar movs MS (7') 2. a mesma
instrução para MI (7') 3. unir, sobrepor, mesclar: MS+MI (10') 4. brain
storn


Brain Storn _ Fabi

"braços muito falantes que levam os ombros a reboque mas as costelas gritam se debatendo no interior de corpo gritam e gritam, mas somente braços passeiam felizes pelo ar, já que a estrutura é fixa e não pode ganhar o espaço. Uma imensa prisão, onde os membros inferiores perdem a voz, falam palavras sem sentido. Eles sabem é percorrer diversas estradas e caminhos. Estão no calabouço movimento repetitivo que se transforma, divertido, lúdico, com diversas nuances, níveis, ritmos, tensões, balanços, cima baixo torção curva cabeça vai a reboque. cena final no chão, com movimento de braços, cravados no chão. mas eles não se calam quando estão a ..."
recorte do brain storn da Fabi _ Substrato narrativa

"...uma imensa prisão, onde os membros inferiores perdem a voz, falam palavras sem sentido. Eles sabem é percorrer diversas estradas e caminhos...nuances..tensões, balanços...cravados no chão..."