descarnar 
- des.car.nar - 
(des+carne+ar)

Significados
- deixar (os ossos) a descoberto (tirando a carne).
- despegar ou separar da carne (os ossos).
- deixar (o caroço) sem polpa.
- separar do caroço (a polpa de um fruto) ou das fibras das folhas (o parênquima).
- separar do tento o carnal.

Significados (figurados)
- escavar, pôr a descoberto (a raiz de um dente).
- livrar(-se) de; afastar; desapegar [descarnou-o dos sofrimentos.]

A proposta é descobrir com esse verbo tanto a corporalidade como a poética, atreladas. O descarnar como o estudo da carne com a sua materialidade crua que se separa do osso, deixa-o a descoberto, livra-se - aos poucos, por pedaços, talvez de maneiras diversas (rasgando, descolando, atravessando) - de forma a buscar, na insistência desse esvaziamento, a essência, o desapego, o desapegar. E nessa metamorfose, feita em etapas, descobrir o que sobra e como sobra para continuar.
descarnar 
- fissurar/descamar/escavar

- abrir fissuras, escavar.
- insistir até esvaziar.
- descarnar coisas objetos.

"(...)uma experiência, por definição, determina um antes e um depois, corpo pré e corpo pósexperiência. Uma experiência é necessariamente transformadora, ou seja, um momento de trânsito da forma, literalmente, uma trans-forma. As escalas de transformação são evidentemente variadas e relativas, oscilam entre um sopro e um renascimento (...)"(Fabião, Eleonora - Performance e Teatro).
O descarnar atrelado à ideia de abrir fissuras, descamar, escavar. Um descarnar por camadas, em etapas, através da insistência. Insistência até o esvaziamento, não do todo, somente de parte, que reverbera no que ainda persiste inteiro, mas transformado. Descarnar até expor o que há dentro, ou ainda, desfazer-se do conteúdo e ficar apenas o container, a estrutura, o osso, o esqueleto.

O descarnar o corpo enquanto objeto-coisa,corpo_edificação,a beleza dos espaços abandonados.

Metamorfose.
Foto:Matthias Haker/www.matthiashaker.com
Foto:Matthias Haker/www.matthiashaker.com
- exploração de movimento a partir do BMC - BodyMind Centering®. Estudos a partir da Carne para a improvisação de movimento. CARNE: Toque de descolamento, e deslize da carne em relação ao osso (separação da carne do osso)/registro em anotações; 20 min toque/ 7.5 min improvisação;

- apreciação de algumas imagens – edificações abandonadas; 5 min;

- nova improvisação/registro em anotações; 7.5 min;

- escrita automática; 5 min.

descarnar_carne
27_03_13


Sem pensar tentar escrever quedas dissociação corpo em pedaços fotografia sonoridades de quebra sons quebradiços corpo com um tonus bem alto mas quebradiço estar nesse tônus estranho corpo torcido com tônus que leva a mudança de nível mas torcido e denso bem denso qdo vi as imagens foi diferente veio um corpo mais sutil leve mais delicado e frágil algo demolido já e existia uma permanência nas imagens mas depois fui levado por um impulso de uma imagem a outra um corpo mais leve mas tb dissociado o tônus era mais leve mas tinha um impulso que vinha de fora e que levava a novas e novas ma_

descarnar_descamar
03_04_13


- exploração de movimento a partir do BMC - BodyMind Centering®. Estudos a partir da Pele para a improvisação de movimento/registro em vídeo e em anotações. 20 min toque/ 15 min improvisação;

- apreciação de algumas imagens – edificações abandonadas; 5 min;

- nova improvisação/registro em vídeo e anotações; 15 min;

- escrita automática; 5 min.

Pele suave, delicada, frágil, descascar, eu me descasco e me impulsiono. Cascas e saltos no espaço eu me rasgo em pedaços. Partes ficam penduradas rastro mais intenso. Algo me rasga e me rasga em pedaços maiores. Pedaços de corpo em ritmos diferentes dissociados. Uma parte leve que leva a outra mais densa que rasga em me risco e as cascas, o rasgar me leva pelo espaço. E depois pedaços de carne inteiros são rasgados e impulsionam para fora partes dissociadas.

descarnar_descamar
semana de 10_04_13

- Leitura da escrita automática sua e de minhas anotações;

- Assistir aos videos nessa ordem: antes das fotos/depois das fotos;

- Assistir novamente estes videos com a minutagem e observações;

- Assistir o vídeo editado com as movimentações/momentos que me tocaram;

- Escrever uma partitura de sensações com o video editado;

- Acessar novamente no corpo a partitura de sensações do vídeo editado e/ou o vídeo editado.
Foto:Matthias Haker/www.matthiashaker.com
descarnar_fissurar/
escavar
17_04_13


- relembrar a partitura;

fissurar - exploração de movimento a partir do BMC - BodyMind Centering®. Estudos a partir da Carne;

- apreciação de algumas imagens – edificações abandonadas;

- improvisação/registro em vídeo e anotações;

escavar - exploração de movimento a partir do BMC - BodyMind Centering®. Estudos a partir da Carne;

- apreciação de algumas imagens – edificações abandonadas;

- improvisação/registro em vídeo e anotações;

- escrita automática.

Fissurar – desenho + espacial estirar esticar o corpo no limite para a fissura ligamentos no limite dificuldade na locomoção. Sem braços me trouxe um lugar mais delicado e um novo lugar de corpo/ macio torcido/ meio tortuoso/ tonus médio/ dificuldade de manter devido ao “tecido”(?).

Escavar –tonus bem alto dificuldade de manter a clareza e a concentracão e a musculatura do corpo todo ativa o lento escavar demolir e não restar. Vi fotos de corpo estrutura em relação ao tempo. Temporalidade longa. Longa duração. Corpo pedaços de tonus estruturas vigas que se mantem apesar do tempo eram as vigas do meu corpo.


descarnar_fissurar
/escavar
semana de 24_04_13

- Mesmo procedimento da semana de 10_04_13
descarnar_fissurar/
escavar
08_05_13


- relembrar a partitura de fissurar;

- improvisação/registro em vídeo e anotações;



- relembrar a partitura de escavar;


- improvisação/registro em vídeo e anotações;

- conversa.

descarnar_
descamar/
escavar
02_06_13


Escola das Meninas

- improvisação/registro em vídeo e fotos;


- repetição de um percurso/espaço escolhido, segundo uma qualidade/movimentação encontrada;

- eleição de elementos da construção ruída para o descamar (parede/esquadria), escavar (canto do ambiente (parede/parede/esquadria);

- perceber o que resta (repetição e insistência ou pausa).

Fotos:Thiago Ventura e Renata
Eu escolhi este espaço, localidade da casa, porque existia ali uma construção, paredes, muitas janelas, mas não havia teto. Neste lugar existiam árvores gigantes e de lá eu podia ver o céu e o topo das árvores, folhas voando e se movendo com o vento. Havia a construção, o sólido, o antes, o algo antes que já não era mais o mesmo. Havia transformação, camadas de realidade.
Havia ali também algo que foi nascendo aos poucos até tornar-se árvores gigantescas dentro dos cômodos das casas. E as folhas espalhadas no chão.
Camadas de existência, de tempos. Sensação de entrar em cômodo local privado, que está aberto, exposto, à luz do sol, a chuva e o vento, está exposto às mudanças e às instabilidades do tempo.
As janelas, todas abertas, sem abrigo, como frestas e buracos de onde se pode ver de maneiras diferentes.
O descascar estava na parede da janela. A parede já descascada, já desfeita, já em dissolução, no desfazer do toque da pele como concreto, os tijolos à mostra. Era um lugar íntimo de espaço e sensação.



O escavar era mais espacial, havia movimento no espaço. Eu sentia o escavar pelo buraco do teto da casa e as cavidades por todos os lados das janelas. Escolhi um trajeto entre duas janelas. Eu era escavada por aquele espaço por muitas cavidades e buracos. Um buraco no tempo, uma sensação de atemporalidade.
No descascar ainda tinha um corpo que escorria de um fiozinho no ar, delicado, se desfazendo com o toque das mãos. Algo muito delicado, que se desfazia ao toque das mãos, mas que permanecia ali com o passar do tempo.

Havia uma permanência ali em oposição a uma provocação externa que me levava a uma insistência e repetição.
Uma permanência do lugar e as constantes camadas de transformação da casa, da construção, via mudanças de forma.
Uma tentativa, uma vontade de permanecer... uma sensação de permanência e um ser levado por instruções de fora a insistir, repetir.
O insistir, repetir me levava a um corpo em constante dissolução. Um corpo se dissolvendo aos poucos devido a uma insistência de repetição provocada em relação ao tempo.
Havia um conflito no meu corpo entre a permanência e a dissolução, via repetição, insistência.
Um deslocamento de tempo, espaço.

Ruídos delicados. Um silêncio, permanência, continuidade.


descarnar_
descamar/

19_06_13


Sala Crisantempo

- como transpor a experiência da Escola das meninas para esse novo espaço?

- escolha de um dos verbos complementares para continuar: descamar;

- eleição de elementos do novo espaço para o descamar (parede/esquadria);

- perceber o que resta (repetição e insistência).